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Soluções autoritárias não oferecem segurança às escolas

Soluções autoritárias não oferecem segurança às escolas

12 de Abril de 2023

O professor e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE), Daniel Cara, apontou, em seu Twitter, que "a sociedade brasileira lida com o problema de forma superficial e efêmera", e que as "comunidades escolares permanecem desamparadas". Ele foi o organizador do relatório Ultraconservadorismo e Extremismo de Direita entre Adolescentes e Jovens no Brasil, lançado em dezembro de 2022 e encaminhado ao grupo de transição da área de educação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com matéria publicada no site da CNTE, o documento associa o crescimento de atos de violência à escalada do ultraconservadorismo e do extremismo de direita no país e à falta de controle e criminalização desses discursos e práticas. Segundo o levantamento, ao longo dos anos 2000, ocorreram 16 ataques em escolas brasileiras, que mataram 35 pessoas e deixaram 72 feridas.

A pesquisadora Letícia Oliveira, editora do site El Coyote, que monitora grupos de extrema direita no Brasil há 11 anos, também colaboradora do relatório, explica que comunidades específicas nas redes sociais cultuam quem comete atentados nas escolas e consideram ações violentas como os massacres de Suzano, em São Paulo, e Realengo, no Rio de Janeiro, marcos desse movimento.

O caso da escola da zona oeste de São Paulo está diretamente ligado aos ataques anteriores, ocorridos em Suzano (SP) e em Aracruz (ES), pois o assassino de Bete usava, em sua conta no Twitter, o mesmo sobrenome que um dos assassinos de Suzano e ostentava em suas vestes uma balaclava de caveira, símbolo de supremacistas brancos norte-americanos, utilizada também pelos assassinos de Suzano e Aracruz.

Misoginia, machismo, racismo, LGBTfobia, supremacismo racial e culto à violência são elementos alimentados pelo bolsonarismo nos últimos anos e é urgente que esses temas sejam enfrentados com a devida clareza e consequência, sob pena de permitirmos que os responsáveis pela violência fascista sejam os propositores das "soluções".

O fascismo é a face mais perversa do capitalismo, não o seu oposto. A opressão de uma classe sobre a outra é a essência desse sistema cuja única liberdade possível é a da manutenção dos lucros das grandes corporações.

Se hoje nos assustamos com ataques de jovens dominados pelo ódio, precisamos nos lembrar que vivemos por 21 anos sob governos que matavam e torturavam mães, na frente de seus filhos crianças, nos porões da Ditadura Militar da qual Bolsonaro é cria e seus admiradores fãs. Por sua vez, esses violentos homens armados da ditadura são herdeiros dos senhores escravocratas que matavam e torturavam aqueles que produziam suas riquezas.

A cooptação dos jovens pelo neonazismo e a assimilação da ideologia da extrema direita por parte da sociedade nada mais é do que a moderna arma dos poderosos contra o povo.

No momento da exposição dos ataques, os que defendem os programas de militarização de escolas, a política de armamento indiscriminado e apoiam governos que promovem o fim das políticas de saúde mental, são os primeiros a mostrarem indignação e a usarem os casos de violência como pretexto para sustentar seu apoio aos ideais fascistas de aumento da repressão contra o povo.

Por outro lado, os que entendem a escola pública como espaço para a coletividade educar o indivíduo para uma sociedade justa e democrática sabem que as medidas indispensáveis para prevenir atos terroristas passam pela resposta firme aos discursos fascistas.

Se os trabalhadores reproduzem a ideologia da classe economicamente dominante, a luta contra a opressão passa pela conscientização classista. No caso da violência nas escolas públicas, é preciso escapar das armadilhas dos defensores de mais repressão violenta contra o povo e pensar em soluções emergenciais e a longo prazo.

Oliveira alerta que, para se identificar possíveis agressores é fundamental o monitoramento das ações e a atenção em sinais de preconceitos. Para a pesquisadora, “uma das formas de prevenção é entender como funcionam os meandros desses jovens que cultuam assassinos em massa nas escolas e dar ferramentas que possibilitem a comunidade escolar perceber se os alunos e alunas estão sendo cooptados pela extrema direita ou estão frequentando algum tipo de comunidade. Muitas delas abertas e acessíveis a todos. Misoginia e racismo são sinais mais característicos de alguém com potencial para ataques”, recomenda.


Texto com informações do Brasil de Fato
Autoria: Maria Dolores Zundt
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

 

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