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Acompanhamento psicológico tem contribuído para professores atingirem potencialidades

Acompanhamento psicológico tem contribuído para professores atingirem potencialidades

20 de Julho de 2019

O projeto “Cuidando Daquele que Cuida” tem aberto as portas da APLB Sindicato Núcleo Castro Alves para os professores superarem a si mesmos. O espaço de autoconhecimento contribui na pratica profissional do professor, nas relações sociais no trabalho e na família. Conversamos com Tárcio Silva, psicólogo responsável, para saber como o projeto está fluindo. De acordo com ele, os professores estão diminuindo as cargas, as obrigações, e assumindo somente o que é necessário. Acompanhe o bate papo.

APLB-Sindicato: Como estão os atendimentos?

Tárcio Silva: Eu tenho percebido que o fluxo de atendimentos tem sido positivo, até porque eu não imaginava, a princípio, que viria tantos professores, mas graças a Deus estamos tendo uma continuidade, e o mais gratificante é que vejo muitos professores evoluírem de forma positiva. Temos muitos mitos, crenças que ainda nos impedem de enxergar as situações na sua essência e esses mitos e crenças do mundo exterior só existem de forma interna, pois é algo que a gente constrói e isso acaba impedindo de vivermos uma vida mais saudável.

O nosso espaço aqui tem sido um lugar de desconstrução dessas crenças e mitos. Tenho percebido nos professores uma desconstrução de tudo aquilo que os impedem de desfrutarem uma vida saudável. Sabemos que existe uma pressão em ser professor, existe uma cobrança para com eles e existe uma cobrança deles para o que estão fazendo, e essa cobrança as vezes é muito expressiva. Esses profissionais assumem atividades que não estão no seu papel, como por exemplo, um professor que sofre ao ver um aluno que não consegue aprender efetivamente e, assim, acabam culpando a si mesmos. No entanto, uma mudança de postura pode leva-los a dar aquilo que eles têm de melhor.

Tenho percebido que os professores estão diminuindo suas cargas, suas obrigações e assumindo só o que é necessário, só o que eles são capazes de darem. Além disso, tem muitos sofrendo por não estarem no “aqui agora”. Essa preocupação com o momento futuro faz com que o momento presente não seja vivenciado e isso gera uma angústia, porque esse indivíduo quer estar num lugar que ele não pode estar. Portanto, esses mínimos detalhes têm contribuído para que nossos pacientes diminuam as cargas e desfrutem daquilo que realmente precisa ser feito.

Como é sua metodologia?

Esse lugar aqui é um espaço que não existe julgamento. Nós, como seres humanos, passamos por dificuldades. Porém, a dor pode ser intensa para mim, mas para o outro é algo simples. Os motivos da dor podem ser uma besteira, mas é tão intenso como qualquer outra dor. Portanto, aqui existe respeito por aquilo que o professor traz para esse espaço. As vezes as pessoas pensam que psicólogo é para dar conselhos. Não é bem isso, não existe conselho, porque se eu der um conselho para um professor eu estou partindo da minha vivencia, da minha crença, daquilo que eu acredito como certo, que as vezes o que é bom para mim, para ele não é bom. Eu parto do princípio, que a resposta para o conflito que o paciente está passando encontra-se nele mesmo. O psicólogo só vai com suas técnicas, fazer com que o paciente chegue ao esclarecimento, para que se traga a consciência o que está acontecendo. Se trata de uma parte do atendimento. A gente faz com que ele perceba o que é que de fato ele precisa, pois as vezes você está passando por alguma situação, você pede vários conselhos, quanto mais você pede conselhos, mais você vai se distanciando do que você precisa fazer. E sendo que a resposta está em você mesmo...

Outro ponto que quero sinalizar é a questão do sigilo absoluto. Tudo que se passa aqui nesse encontro, fica nesse encontro. Isso gera uma tranquilidade para que as pessoas acessem, de fato, o que a psicologia chama de “sombra”, que é o lado negativo do ser humano que geralmente não aceitamos, mas que é fundamental se familiarizar, porque esse lado faz parte de nós. Somente conhecendo é que a gente vai poder ter um domínio sobre nossas limitações. A psicologia fala que aquilo que mais incomoda você, fala um pouco sobre você. As vezes temos algo negativo e não aceitamos, “eu não sou isso, não”, mas, somos assim também. Portanto, precisamos aceitar essa condição.

Fale um pouco mais sobre sua abordagem para com os pacientes.

Tem várias formas de lidar com o ser humano, como existem várias formas de chegar a Deus. Na psicologia a minha abordagem é humanista, focando em ser não-diretiva.  Como assim? Eu não tenho nada pronto para perguntar ao professor, pois acredito que as pessoas não são como um robô. Se eu disser que estou triste e você disser que está triste, pode até ser o mesmo motivo, mas a sua vivencia, a sua intensidade é diferente da minha. Por isso, nosso espaço aqui foi preparado para você. Aqui a gente trabalha com o que o paciente traz, e eu como psicólogo pratico essa abordagem a priori. Todos os meus preconceitos, tudo o que eu acho como certo, eu tiro, e fico aberto para a experiência, então é um espaço que o professor tem a liberdade de ser ele mesmo, sem nenhum tipo de julgamento. É um espaço para falar alguns absurdos e o outro não achar que estou errado ou certo, é literalmente isso. Aqui a gente trabalha dessa forma, sem julgamento, com sigilo absoluto, respeitando a individualidade, pois partindo desse respeito a gente consegue aprofundar-se e visitar a raiz da essência para desconstruir muita coisa que nos tornam escravos e nos impedem da viver a essência da vida.

Como acontecesse essa desconstrução?

Desconstruir não quer dizer que eu vá influenciar diretamente o paciente. A proposta é ele, por si só, desconstruir algo que não precisa mais carregar. Esse desconstruir acontecesse quando ele percebe que aquilo que ele pensa, aquele medo que ele tem, é um medo que parte dele e acaba tornando os dias difíceis. Vou citar um exemplo escolar: eu sou professor, estou numa sala com 25 alunos, 15 tiram notas boas e 10 não conseguem atingir o mesmo desempenho. Daí, sou cobrado pelos coordenadores para que se tome alguma providência, pois fazer que todos tirem notas altas é uma demonstração de que meu trabalho está bom. Existe uma cobrança, e é aí que está o adoecimento: eu começo a ver o menino tirando nota baixa e começo a pegar no pé, a jogar duro e acabo não entendendo a raiz do problema. Na realidade, o aprendizado e as notas boas não acontecem somente na relação professor-aluno. Existem outros fatores que influenciam no resultado final, como por exemplo, uma família que não acompanha, um pai que não dar atenção, ou seja, uma série de variáveis que não estão ao alcance do professor.

Tenho experiência de um profissional da educação que quando ele está na escola ele consegue fazer 5 atividades, mas quando ele está em outro ambiente, exemplo, igreja, ele faz 30 atividades, e nessas 30 ele não sente um pingo de cansaço. No colégio ele faz apenas as 5 e se sente cansado demais. Como explicar? O problema não é o que lhe aconteceu, mas é a forma como você está reagindo a isso, então o adoecimento não é o colégio, o adoecimento é a forma como você lida com o colégio.

As pessoas tratam a vida como se fossem vários departamentos. Por exemplo: no trabalho eu sou uma pessoa, em casa eu sou outra, na igreja eu sou outra, e aí a vida fica como se estivesse separada por cada tipo de comportamento baseado no ambiente onde o sujeito se encontra. Como é que um indivíduo pode ser ele mesmo sem perder a essência?

Existe algo na psicologia que se chama congruência, que é você pensar, sentir e agir. Muitos professores são incongruentes, são falsos com eles mesmos para poder agradar ao outro, para ser bem-visto pelo outro, para poder que o outro o enxergue como potencial. E aí chega a um ponto que ele se pergunta: será que eu ser falso comigo mesmo tem valido a pena? Ser falso comigo para poder agradar ao outro? Tem professores que não sabem falar o “não”, e acabam assumindo coisas que não tem capacidade, e aquilo gera um sofrimento. Então é preciso ter o contato consigo mesmo, é a congruência, é ver o que eu posso fazer, o que estou com vontade de fazer e ser fiel a isso. Além do mais, tem várias formas de você falar o “não”, por exemplo: “no momento agora eu não estou podendo, mas assim que eu melhorar e resolver isso aqui eu vou fazer para você”. 

E as vezes você faz isso pensando “o que é que o outro vai pensar de mim” e sempre com essa coisa de querer passar uma imagem boa, porque se eu falar um “não”, o outro vai se distanciar. Porém, você tem que ter o outro não pelo o que você oferece, não pelo o que você dar, mas pelo que você é. Só que as vezes você não dar espaço para que o outro goste de você pelo o que você é, pois você sempre está alimentando o sim, o sim, o sim, e isso em algum momento vai lhe prejudicar. Quando você vive você mesmo, começa ter força, olha o mundo de outra forma, quando vem uma adversidade você sabe lidar positivamente, pois você está forte. Então, existem muitos professores distantes de si mesmo.

Como assim?

Nós somos cheios de máscaras. Eu, Tárcio, dentro da minha casa sou um, com minha namorada sou outro, na minha profissão sou outro, no ambiente de amigos sou outro, então nós precisamos respeitar e saber lidar com essas máscaras, aceitar essa dualidade que existe em nós. A máscara é algo que é real em nós. O professor precisa se vestir para cada espaço, porque se você for a mesma figura rígida num ambiente de trabalho, no ambiente social e no ambiente familiar, vai existir um sofrimento. Portanto, deixe as coisas fluírem, livre do que o outro vai achar.

Você falou sobre deixar as coisas fluírem. O que significa?

É não ser falso consigo mesmo. Quando estou sendo falso comigo mesmo, estou me distanciando de mim e esse distanciar é percebido quando a gente pergunta: “o que é que você está sentindo agora?” E você não sabe responder. Por que você não sabe? Porque você não vive suas experiencias. Nós somos cheios de potencialidades e se a gente não praticar acontece algo cientifico que é comprovado: isso vai nos deteriorando e gera uma depressão, pois você está sendo falso com você mesmo. É como se você se desconhecesse. Logo, a vida não faz mais sentido.

As crianças tem congruência. Se estão com fome elas choram, pode ser no ambiente que for. Se ela quer dar risada ela dar, então a criança é fiel a ela mesma, ao que ela sente, porém com o passar do tempo a gente é obrigado a ser incongruente em algumas situações. Você começa a ter a consciência de que se você vê alguém triste você não vai dar risada, mesmo que você queira dar risada. Uma criança está com fome pede a mãe algo para comer, mas sua mãe está na casa de uma amiga com você e não permite que peça algo para comer na casa dos outros. Esse é um clássico exemplo de como uma pessoa começa a distanciar de si mesma. Você vai deixando de experenciar aquilo que você precisa experenciar, e isso gera sofrimento, distanciamento, desconhecimento dos motivos que me deixaram assim, tão triste. Na verdade, “nem sei porque estou triste, eu não sei qual é o meu caminho”. Já ouviu isso? Mas por que? Porque você está sempre vivendo o caminho do outro.

Num ambiente de trabalho tal como é a Escola, as relações são estabelecidas a partir das funções e isso gera hierarquias. Como construir uma relação autêntica no ambiente escolar, independente das exigências?

Tem casos de diretores que se situam como chefes, não como líderes, e ser chefe passa uma opressão para o professor, e o professor para agradar, para não ter discórdia e por respeitar esse espaço de chefia acaba se comportando de uma forma retraída. É claro que existe uma cobrança do diretor para com o professor, e existe a cobrança do professor para com o diretor. Mas, o que o professor está fazendo com essa cobrança que o diretor lhe faz? Por exemplo, o diretor passa para um professor 5 exigências, mas o professor só consegue fazer 3. As outra duas ele não consegue a tempo, mas, para agradar, acaba trabalhando o dobro. É nesse ponto que começa o desgaste.

As vezes o professor para agradar, não percebe que está fazendo algo que já ultrapassou os próprios limites, sendo que se ele fizesse só aquilo que está ao seu alcance, já seria o suficiente. As vezes existe uma cobrança além do normal. Eu passo para meus pacientes que é necessário pensar sobre o pensar, é a metacognição. É como se eu recebesse uma função no pensamento, mas nem todos os pensamentos a gente tem que alimentar, nem tudo o que nos pedem a gente tem que fazer, senão vai virar uma loucura, então eu preciso pensar. Ao receber uma demanda, eu preciso pensar sobre os pedidos e analisar os que estão ao meu alcance, e assim vou fazer e cumprir a minha missão com prazer. Infelizmente, tem professor que ainda não desenvolveu essa habilidade de pensar sobre o pensar. Existe uma pressão em estar ali, mas a pressão que o professor faz com ele mesmo é desnecessária. Aqui no consultório é o lugar da pessoa perceber e começar a diminuir essas cargas. Muitos professores já me disseram que chegaram aqui com 50 sacos de cimento, e saíram somente com 10. A exigência para resolver uma demanda imediata, com aquela pressão, só gera desgaste, ansiedade e sofrimento.

Ainda pensando nas relações hierárquicas dentro de uma Escola, como os funcionários devem lidar com exigências que estão além das próprias capacidades?

É uma necessidade do ser humano ter uma aceitação aonde ele está. Se tem alguém chefe, eu preciso aceitar que ele é um superior e eu preciso seguir o que ele manda. Quando você parte desse princípio, você está aberto a viver novas experiencias, porque as vezes o nosso ego tem um certo tipo de orgulho que impede a gente de praticar aquilo que o outro quer. Então quando você se aceita onde você estar, isso faz você ficar aberto para praticar aquilo que lhe é exigido.

As vezes a pressão não estar em “fazer aquilo”, e sim porque um superior lhe pediu. Você deve aceitar o lugar que você se preparou para estar. Quando você parte desse princípio do aceitar, o nível de desgaste diminui. Vamos supor que um porteiro não aceita ser porteiro e pensa que sua opinião é a mais correta. Logo, é bem provável que ele vai ter conflitos. Porém, quando ele aceita ser porteiro, e que está ali para cumprir as suas funções, ele vai praticar as atividades de forma mais efetiva.

Na psicologia tem um termo que traduz a nossa idealização.  É o selfie que eu sou e o selfie ideal que eu queria ser. Quanto mais você se distancia do selfie que é, e se confunde com o selfie ideal que você quer ser, maior será o sofrimento. A solução é você perceber o que você é, e estar consciente do que você é. As vezes a pessoa não aceita e acha a sua profissão inferior, mas não sabe o quanto é útil. O problema é que a pessoa ainda não conseguiu se encontrar, aquilo que ela faz ainda não encontrou sentido, então essa falta de sentido acaba gerado pessoas mal resolvidas. Quando você não está bem consigo mesmo, você cria conflito com os outros. Por isso, quando uma pessoa percebe a utilidade que tem para o funcionamento da instituição, a valorização pessoal vem, porque tanto o gari quanto o médico são essenciais, pois se não tivesse alguém que varresse e arrumasse as ruas, provavelmente nós teríamos um número de doenças super expressivo. Assim como se não tivesse médicos, a gente não teria um acompanhamento efetivo na saúde. Então se faltar o gari, o médico não vai viver, se faltar o médico, o gari não vai viver. Logo, todos são uteis. Quando você está consciente do que é, esse pensamento cria uma nova forma de olhar a vida. Nós precisamos nos permitir estar bem, praticar nossas potencialidades para que a gente possa perceber a vida de uma forma diferente.

A nossa sociedade cobra muito em a gente ser certos e corretos o tempo todo. No Instagram percebemos as curtidas, mas ninguém chega para falar dos pontos negativos. Só vemos pontos bons, a sociedade é assim. Mas saiba que pessoa que vive melhor é aquela que sabe lidar com o ego e a sombra, que sabe lidar com o lado bom e ruim. Infelizmente as pessoas só estão acessando o ego, só o que é bom, mas a sombra é tão real quanto o ego.

Quais são os problemas que mais você tem lidado neste consultório?

Síndrome do pânico, medo excessivo, ansiedade e até casos de pré-depressão em alguns profissionais da educação. Também lido com fobias. A maioria sofre de ansiedade.

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Ivisson Costa (MTb 6006-BA) 
Jornalista 

Contatos para a imprensa 
aplbcastroalves@gmail.com
Telefone: (75) 3522-3430

 

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